sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Avanços Científicos e a Dependência Química

Diretora de instituto sobre abuso de drogas dos EUA apresentou palestra na tarde de ontem, em São Paulo
A dependência química é uma doença crônica que afeta o funcionamento do cérebro. Essa é a premissa básica apresentada pela psiquiatra Nora Volkow, diretora do Nida (Instituto Nacional sobre Abusos de Drogas, na sigla em inglês), em palestra realizada na tarde de ontem, no auditório da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

No início da atividade, a especialista de origem mexicana radicada nos EUA explicou que o consumo seguido de substâncias psicoativas produz no cérebro um efeito semelhante ao que acontece no coração de pessoas com problemas cardíacos. Através de exames que mapeiam a atividade cerebral, pesquisadores descobriram que a dependência química reduz o metabolismo em áreas como o córtex orbitofrontal.

A palestrante explicou como funciona esse mecanismo. “Essa área também é afetada no transtorno obsessivo-compulsivo. É a região do cérebro que nos permite mudar o comportamento de acordo com a necessidade. Por isso algumas pessoas dizem que não se tem mais prazer com o uso da droga, mas mesmo assim não conseguem parar”.

A abordagem foi destacada pelo secretário do Departamento de Dependência Química da ABP, Marcos Bessa. “Acho que este foi um ponto importante da palestra: a visão do conhecimento neurocientífico sobre a dependência como doença crônica cerebral. No Brasil, ainda predomina a idéia de que se trata de algo ligado ao caráter ou um problema de ordem moral”, comentou.

Desenvolvimento
Nora também destacou que esses efeitos podem ser potencializados nos casos em que o uso de drogas acontece durante o desenvolvimento cerebral. “As pesquisas mostram que o vício em maconha é mais comum dos 17 aos 22 anos. Durante a juventude, a habilidade do cérebro se adaptar de acordo com os estímulos ambientais é maior, pois as conexões entre o córtex orbitofrontal e a amígdala não estão totalmente desenvolvidas”.

Assim, o desenvolvimento da doença depende da interação entre aspectos genéticos e ambientais. Ambos os fatores podem estimular ou diminuir a ação dos receptores dopaminérgicos, que funcionam como um “protetor biológico” contra o vício. “Como sabemos que estressores sociais afetam esses receptores, podemos desenvolver estratégias de prevenção para os adolescentes socialmente vulneráveis”, declarou a palestrante.

Tratamento
Sobre o trabalho de recuperação para os dependentes, Nora explicou que a compreensão da dependência como doença crônica deve orientar a terapêutica para o longo prazo. “O fato de termos recaídas durante e após o tratamento não significa que ele não funciona. Pelo contrário, assim como na hipertensão, a dependência exige cuidado contínuo”. Segundo ela, com base no mecanismo cerebral responsável pela dependência, a intervenção deve ser direcionada para restaurar as conexões cerebrais afetadas.

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